Amsterdam, Brasil e as Bicicletas!

Nas ruas sobre duas rodas

Guilherme Kfouri

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Com mais de 400 km de ciclovias, Amsterdã é considerada o paraíso urbano para ciclistas. O sucesso deste modelo é resultado de uma série de investimentos feitos nas últimas décadas. Um caso que pode servir de exemplo para incentivar o uso das bicicletas no Brasil.

As bicicletas já eram comuns na Holanda desde o início do século XX, mas ganharam mais espaço nas ruas nos anos 70. A crise internacional do petróleo, aliada a crescentes preocupações com o meio ambiente e o trânsito nos centros urbanos, incentivou muitos motoristas a trocar o carro pela bicicleta. Desde então, as estatísticas mostram que o número de cidadãos-ciclistas vem crescendo a cada ano. Segundo dados da prefeitura de Amsterdã, há mais de 550 mil bicicletas na cidade (85% dos cidadãos maiores de doze anos possuem uma) e um em cada três deslocamentos é feito sobre duas rodas.

O hábito de pedalar é estimulado por diversos fatores. Investimentos pesados nas últimas décadas possibilitaram a criação de uma infraestrutura exclusiva para ciclistas. Há mais de 400 km de ciclovias em toda a cidade, estacionamentos específicos (incluindo uma plataforma de 3 andares em frete à estação central, com capacidade para 8 mil bicicletas) e sinalização especial no trânsito. Além disso, as redes ferroviária e metroviária permitem o transporte de bicicletas.

Brasil
O Brasil é um dos países com maior número de bicicletas no mundo. Estima-se que haja mais de 75 milhões. Mesmo assim, ainda há pouca estrutura para quem decide pedalar. Em São Paulo, a maior cidade do país, há apenas 30 km de ciclovias, a maior parte localizada em parques. O Rio de Janeiro possui a maior malha cicloviária, com 160 km (grande parte ao longo da orla).

Na opinião do presidente do União dos Ciclistas do Brasil, Antonio Miranda, falta planejamento. “Há pouco mais de um mês foi lançado um programa no Ministério das Cidades para a construção de um milhão de casas. O objetivo é fazer com que a estrutura para a bicicleta seja incluída já no projeto, em seu nascedouro.”

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Problemas como sinalização e regras específicas para o convívio entre carros e bicicletas também causam insegurança aos ciclistas. No início do ano, a ciclista Márcia Prado, 40, morreu atropelada por um ônibus na Av. Paulista, em São Paulo. “Técnicos já confirmaram que a culpa foi do motorista. Mas ela estava numa faixa exclusiva para ônibus, e no Brasil não há uma legislação clara que permita o tráfego compartilhado de bicicletas e carros numa mesma via, como em cidades europeias.”

Ainda de acordo com Miranda, muitos grupos de ciclistas têm se espelhado em cidades européias, principalmente da Holanda e da Alemanha, como modelos a serem adotados no Brasil. Em muitas vias de Amsterdã, por exemplo, apenas uma faixa pintada no chão separa o espaço destinado a bicicletas e carros.

Bicicletadas
Todos os meses, grupos de ciclistas se reúnem em diversas cidades do Brasil para pedalar num misto de passeio e protesto que recebe o nome de ‘Bicicletada‘. Jorge Brand é um dos organizadores do movimento em Curitiba. “Começamos há três anos com poucos ciclistas, mas o grupo cresceu muito a agora fazemos pelo menos duas saídas por mês.” Para Jorge, além de planejamento e estrutura, “falta uma cultura da bicicleta no Brasil. Aqui o carro ainda é um status, um símbolo do conquista social. Então para os políticos a bicicleta é apenas coisa para pobre ou estudante.”

“O que me faz pedalar é o contato com o corpo, a interação com a cidade, a liberdade de escolher meu próprio caminho, de respirar um ar puro.” Além disso, Jorge lembra que a bicicleta faz parte de um modelo sustentável de transporte urbano, já que “a produção de automóveis consome muitos recursos naturais e polui o meio ambiente.”

Desvantagens
Com tantas vantagens, Amsterdã pode ser considerada modelo para outras cidades no mundo e inclusive para o Brasil. Mas ainda há desafios. Anualmente, cerca de 50 mil bicicletas são furtadas na capital holandesa. Até o fim de 210, a polícia pretende reduzir este índice em 40%. Mais uma meta ambiciosa para uma cidade que sempre assumiu grandes compromissos com os ciclistas.

Esta reportagem foi feita pela RADIO NEDERLAND: http://www.parceria.nl/Holanda/20090408-ho-bicicleta – No site dá para ouvir a entrevista também.

3 comentários sobre “Amsterdam, Brasil e as Bicicletas!

  1. Day disse:

    Nossa… Adorei o trabalho, nós temos a solução, agora resta usá-las… temos que cuidar do planeta! todos juntos trabalhando pela aceitação da idéia tornaremos o mundo melhor.

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